ENTREVISTA – ÉRICA DRUMOND, PRESIDENTE DA VERT E UMA APAIXONADA POR GENTE
Érica Drumond é a presidente da Vert Hotéis, mas antes de tudo é “gente apaixonada por gente”. Sincera e com muito bom-humor, ela respondeu às perguntas do Disque9 sobre sua trajetória, negócios e opiniões. A executiva, que já passou pelo setor público, hoje lidera a rede de hotéis que tem surpreendido pelo rápido crescimento e por seus conceitos inovadores. Vale a pena ler e entender o que está por trás de tanta energia e determinação.
NADA SUBSTITUI A FORÇA DO TRABALHO
O caminho de Érica até o lugar onde está hoje, se resume em uma frase: “nada substitui a força do trabalho”. Desde os 14 anos a executiva já queria trabalhar e trocou a festa de 15 anos por um mostruário de joias. A partir daí, nunca mais parou: foi secretária do pai, deu aulas de balé e foi morar no exterior aos 18 anos. Ao voltar, tudo ficou muito diferente! Ela já não se adaptou à rotina de sempre e foi buscar suas próprias conquistas.
Ela afirma que sorte sempre fez parte de sua história, talvez a sorte de ser filha de um empreendedor – o fundador do Hotel Ouro Minas – tenha ajudado a alcançar seus objetivos, mas isso nunca foi motivo para Érica se acomodar. Até porque ela precisou enfrentar os olhares de quem a julgava por ser mulher, jovem e de uma empresa familiar.
Aos 26 anos, quando soube que seu pai construiria “o melhor hotel de Minas Gerais”, ela foi buscar conhecimento na Universidade Cornell e se sentiu segura ao dirigir, durante 10 anos, o Ouro Minas. Parece bom, não é? Mas Érica ainda tinha uma frustração, a de não conhecer outras realidades além daquela em que atuava profissionalmente.
SAINDO DE CASA
Devido ao sucesso de sua atuação, tanto no hotel como no Instituto Estrada Real, ela foi convidada para atuar na secretaria de turismo durante o governo de Aécio Neves. Na hora de aceitar, surgiu a dúvida, mas ela contratou um gerente geral e foi para a iniciativa pública, onde atuou por 4 anos.
De lá vieram vários aprendizados e principalmente o amadurecimento que ela buscava. Trabalhar em um setor com tantas demandas, pressão e problemas, muitas vezes insolucionáveis, a fez “parar de sofrer com o que não pode ser resolvido”. Porque ficar infeliz por causa de coisas que não podem ser controladas? Fica a dica de Érica (:
PAIXÃO
Mas o que move e dá tanta energia a Érica? Ela afirma que é sua paixão por gente: “gosto de mexer com inteligência, trocar ideias, observar pessoas… minha paixão é gente!!” – disse ela sorrindo.
A presidente ainda comenta que isso se traduz na empresa, pois existe o mínimo de hierarquia possível, para ela é imprescindível estar em contato com todos. E isso vale para colaboradores, fornecedores e clientes: se alguém se dirigiu a ela, Érica faz questão de dar a resposta final ao invés de delegar para terceiros: “primeiro tenho uma responsabilidade como pessoa e depois como empresa”. Sem drama, sem mimimi, Érica é mesmo assim 😉
HOTELARIA
Hotelaria é o negócio de Érica e ela afirma que é difícil gerir empreendimentos no Brasil – com tantos impostos e burocracias. Porém, existem planos para vencer estas dificuldades e ser destaque com uma administração de transparência total! Segundo a hoteleira, é transparência contábil que falta em diversas empresas brasileiras, por isso a Vert está trabalhando e investindo para implantar o uniform system de contabilidade, prática comum nos EUA. Ela comenta que muitas coisas em uma empresa podem ser mascaradas, mas números são impossíveis de encobrir. E é nisto que Érica está focando e exigindo de sua equipe.
Fácil não é, mas olhe só, os planos eram: 10 hotéis em 10 anos. Mas não são nem 5 anos e a Vert já tem previsão de abertura para 11 propriedades! Uau! Keep calm and FOCO!
A presidente ainda comentou sobre o resultado da pesquisa “Como se comportam os hóspedes de negócio” e a afirmação “A hotelaria brasileira é cara para o que oferece”, com a qual ela discorda. Érica diz que tudo no Brasil é caro e por táxi e alimentação paga-se a metade em países da Europa, “é muito difícil fazer algo barato no Brasil. O que queremos fazer é agregar tanto valor ao nosso produto que ele parecerá barato. Não vou mentir, mas hoje temos muito a fazer. Dentro de 6 ou 8 anos o custo-benefício na Vert será visível, vantajoso. Infelizmente no Brasil existem coisas muito precárias, setores que não entregam qualidade, mas não é isso que queremos!”
A ideia é investir em talentos, diminuir a rotatividade e ter uma equipe bem treinada e feliz, pois isso fará a diferença no contato com hóspedes e demais clientes. “Em breve mudaremos de sede, será um lugar que as pessoas vão gostar de trabalhar. Ao invés de sentar em uma mesa, elas podem ficar à vontade em uma poltrona, por exemplo. Um ambiente totalmente diferente.” A hotelaria precisa mesmo disso, né? Chega de paredes e tanta formalidade!
Um dos pilares da Vert é a sustentabilidade, que vai muito além de iniciativas ambientais – o objetivo é o lucro sustentável. Por isso perguntamos quais ações estão sendo executadas para garantir a estabilidade deste pilar e ela foi muito sincera ao dizer: “Podemos fazer muito mais. Temos várias projetos, mas a sustentabilidade completa ainda é um sonho que estamos perseguindo. Sabemos o que queremos, mas ainda não somos um produto pronto.” Hoje na Vert o lixo é descartado corretamente, papéis são reutilizados e no corporativo existe um programa de qualidade de vida e incentivo à prática de esportes. A rede tem bons planos para realmente fazer a diferença, confira aqui.
Outro ponto em que rede é muito firme é no resgate da “hotelaria essencial”. Segundo a pesquisa realizada em 2013, cama, ducha, internet e cordialidade são os itens mais importantes para o hóspede. E é isso que a Vert quer dizer com a “hotelaria essencial”, o básico bem feito. “Nos nosso hotéis ninguém vai poder dizer que dormiu mal! Temos cama e chuveiro bons e a equipe está treinada para lidar com problemas. Não amarramos clientes, fornecedores ou hóspedes, pois facilitamos cláusulas de contrato, por exemplo. Damos liberdade para cada um decidir se quer voltar ou ficar na Vert. Somos diferentes sendo verdadeiros, transparentes”. A executiva conta que quer apresentar a mesma consistência encontrada nos Estados Unidos: “eles entregam e ainda mostram quem são. Conseguem emplacar o branding!”
GESTÃO DO TURISMO NO BRASIL
Para Érica, tem-se feito pouco pelo turismo, o país tem um potencial muito maior. O foco deveria ser em coisas únicas e hoje vende-se sempre o mesmo Brasil: “carnaval, praia e outras coisas que temos muitos concorrentes. A publicidade deveria ser estendida para a indústria. Nosso Ministério é fraco, pouco técnico, muito político. O momento oportuno (da Copa) foi desperdiçado.” Ela ainda comenta que o legado da Copa deveria ser uma boa infraestrutura em todo o país, o que não acontecerá: “com a privatização dos aeroportos a tendência é melhorar, mais ainda leva um tempo para vermos mudanças significativas”. Outra coisa que a incomoda é a política de vistos adotada pelo país: “precisa simplificar isso e deixar que os estrangeiros cheguem com menos complicações.”
ÉRICA DRUMOND FORA DO ESCRITÓRIO
Além da presidente Érica, quais são as outras paixões da “Érica gente”? Ela foi rápida na resposta: “adoro ler, praticar esportes, o que faço todos os dias, e estar com meus filhos. Eu nem preciso estar falando com eles, se eu puder somente observar, isso já me dá energia. São essas 3 coisas que me fazem feliz!”.