ENTREVISTA – Annie Morrissey: hospitalidade, marketing e planejamento
Neste mês o Disque9 entrevistou a hoteleira Annie Morrissey, VP de Vendas e Marketing da Atlantica Hotels. Inglesa de origem, é ela que está por trás da estratégia de uma das maiores administradoras hoteleiras do país.
Annie é muito envolvida e reconhecida no mercado, inclusive já atuou como presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB). Nesta entrevista ela nos contou mais sobre suas ideias, perspectivas e opiniões sobre marketing e a hotelaria.
Presente e futuro da hotelaria
Estamos num momento de discussões e reflexões sobre o amanhã do país. Se considerarmos as previsões para a economia, elas não são muito prósperas. E quanto à hotelaria? Annie acredita que dá para ser otimista! A hoteleira comenta que o Brasil ficou muito mais profissional nos últimos anos e hoje tem uma base sólida para crescer, mas como um todo ainda precisa investir muito em treinamento e tecnologia, “temos que rever e adotar soluções para melhorar o atendimento ao hóspede. Por exemplo, em hotéis dos Estados Unidos o processo de check-in/out é automatizado. Outro fator, é o faturamento das diárias que precisa urgentemente se automatizar. No Brasil barramos em legislações arbitrárias e morosas”. Apesar disso, a VP completa:
“Creio que 2015 vai ser um ano difícil, mas já passamos por tantos anos difíceis. E, portanto, cada empresa terá de se adaptar, ser criativa e trabalhar duro para conseguir resultados, sem deixar de encantar aos hóspedes.”
Concordamos, não há tempo ruim para quem tem boa vontade!
Economia compartilhada e o fenômeno Airbnb
Estão todos se rendendo à economia compartilhada: todos os setores, tipos de consumidor e gerações! Um dos principais exemplos vem da hospitalidade, o Airbnb – que está começando a assustar alguns hoteleiros. Annie entende que o modelo levará um tempo para se tornar competitivo no segmento corporativo, mas que no lazer a ameaça já é aparente: “O site é fantástico! O marketing deles é, também, muito bom. O conceito é simples e fácil de entender. Eles realmente acharam um nicho interessante que ninguém tinha pensado. Acho que para resorts podem ser uma ameaça por oferecer uma alternativa mais barata, interessante e diferente. Você pode passar dias num condomínio e realmente viver a vida daquela cidade com qualidade. Isto é válido para o setor de lazer. Para o corporativo, ainda acho que não é o alvo e este tipo de modelo deve demorar mais para se firmar como um canal competitivo”. Ela adiciona que a Atlantica está acompanhando este movimento, bem atenta às novidades e aos novos canais de distribuição que estão surgindo, como o Voltem.
Outro ponto que ela destaca para o sucesso deste modelo é a possibilidade de viver experiências: “Você consegue ir para Miami e ficar alguns dias num barco na marinha. É interessante para pessoas que se cansaram de ficar em hotéis. Você pode ter uma experiência única que jamais poderia ter sido feita antes”. Afinal, quem não está buscando mais bagagem de vida?
Dobrando o número de quartos: estratégia e planejamento
Sabe qual é a meta da rede para 2016? Dobrar o número de quartos! É claro que muito planejamento é necessário e Annie destacou os principais pontos da estratégia da rede para chegar no objetivo.
>> Foco no mercado brasileiro: “Focamos no Brasil. Aqui é um mercado enorme, com vários novos destinos, que apresentam carência de hotéis modernos e inteligentes. Este ano, já abrimos em Rondonópolis e vamos abrir em Rio Branco, capital do Acre. Apesar de pouco divulgados estes lugares, que pensamos ser “remotos”, contam com grandes exportadoras e muito investimento em agricultura. São regiões que necessitam de um hotel com ampla oferta de apartamentos. Normalmente, quando há investidores interessados em construir um hotel, a Atlantica se envolve desde o planejamento do hotel até a parte operacional.”
>> Tudo bem estruturado: “Com o aumento da oferta de apartamentos em algumas praças, somos procurados para converter um hotel de uma rede concorrente para uma de nossas marcas ou mesmo um hotel que não tem bandeira para ingressar em nossa rede, de forma a se tornar mais competitivo. A Atlantica tem esta força de vendas e marketing, além de uma equipe completa de serviços hoteleiros.”
>> Pesquisa local: “Fazemos visitas antes de começar o planejamento e falamos com investidores que saibam mais sobre o mercado. Sempre chegamos a novas praças para somar e não como uma ameaça. Temos que levar em consideração todos os aspectos da comunidade, como os negócios primários, as características da cidade, sua cultura, sua gente, etc. Queremos ser parte da cidade e acima de tudo ser um orgulho para a cidade e para a comunidade.”
Hospitalidade: fica a dica!
Perguntamos o que falta o Brasil aprender sobre hospitalidade e gestão hoteleira e Annie nos deu respostas bem interessantes e totalmente antenadas com as tendências que temos tratado aqui no Disque9, confira:
– Aprender a usar melhor o CRM, como ferramenta para conhecer os hóspedes.
– Precisamos ser mais criativos e inovadores, “tanto nos serviços como na construção de novos empreendimentos, de forma que tenhamos hotéis para o futuro porque é o que realmente faz a diferença para os hóspedes”.
– Treinar e engajar nossos colaboradores, “ver o que incentiva a nova geração para querer crescer e aprender mais sobre nossa indústria”.
Gestão do Turismo no Brasil
Qual deve ser o foco do país nestes próximos 4 anos? A opinião da VP de Vendas e Marketing não é muito diferente da nossa. Nada de ideias mirabolantes, primeiro o que importa:
“O papel do setor privado é cuidar do hóspede e o do setor público é melhorar a infraestrutura dos aeroportos, sinalização, estradas etc. Temos que modernizar rapidamente para não perder o que ganhamos com a exposição da marca “Brasil” na Copa do Mundo e futuramente nas Olimpíadas. A Embratur tem que se preocupar em vender o destino com inteligência e aproveitando esta presença na imprensa internacional”.
Annie consumidora
Ficamos curiosos para saber a relação de Annie com as marcas e investigamos algumas preferências. Ela diz que está disposta a pagar um pouco mais quando o produto é alivia aí: “Adoro a Apple e sei que talvez não é tão inovadora como foi há 5 ou 6 anos. Samsung e outros players deste mercado de tecnologia estão bem na cola deles. Mas eu gosto por ser um produto bem confiável, fácil de entender e “bonito”, nesta questão estou disposta a pagar um pouco mais”.
Outro comentário interessante feito por Annie é sobre a grande quantidade de oferta, que nos mostra a importância de ter um diferencial: o excesso de marcas: “Sou bastante fiel a algumas marcas, mas com o tempo notei que estou ficando menos! Por exemplo, tem tantas marcas boas de iogurte grego que já me perdi e pego o mais à mão no supermercado”.
E quanto à mídia social? Profissionalmente ela acha incrível, mas pessoalmente tem uma relação de amor e ódio! “Tenho Facebook, mas uso apenas para me comunicar com pessoas. Twitter, nem pensar! Acho muito interessante no trabalho por permitir feedback rápido e sincero. Neste ponto, ela torna-se importante para a comunicação das empresas. O que não tenho tanto paciência é no âmbito pessoal pois quando não estou trabalhando, quero estar o mais desconectada possível! Mas sei que é impossível não acessar ou ter Facebook, e-mail, WhatssAp, Instagram e etc, mas tento!”
Rsrsrs, dilemas desta vida conectada, nós entendemos 😉
***
Agradecemos à Annie e à Atlantica Hotels pelo tempo e atenção disponibilizados ao Disque 9! Quer ver alguém entrevistado pelo Disque9? Envie sua sugestão para o alo@disque9.com.br