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ENTREVISTA – Alex Atala: sem mais!


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Alex Atala é daqueles caras que dispensa apresentações. Já foi eleito o melhor chef do Brasil, o restaurante que comanda está entre os melhores do mundo, desenvolve projetos bacanas e tem um carisma enorme.

Já se arriscou como DJ nos tempos de adolescência e explorou a Europa com uma mochila nas costas. Diz que foi lá que começou a sua descoberta e sua relação com a comida. Tem a simplicidade na alma, olha nos olhos quando fala e é super simpático com todo mundo que passa por ele ou se aproxima.

O Disque9 teve o prazer de conversar um pouco com este ícone da nossa gastronomia e se deliciar com as suas palavras, em meio ao coquetel de lançamento do 7 Gastronomia. A empresa oferece alta gastronomia em eventos e é uma parceria entre o chef Atala e o empresário Luciano Martins, da Casa Petra. É um formato de buffet inovador, em que eles fazem o mesmo que todo mundo faz, mas de forma diferente. Guardamos algumas novidades sobre o 7 Gastronomia, que compartilharemos na próxima semana! Aguardem… 😉

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Feliz?

– Muito… em um tom leve, aliviado, genuinamente feliz!

Ele parecia realmente muito feliz! Está bem animado com a possibilidade de brincar no mundo dos eventos. Segundo ele, vai poder extravasar criatividade, porque o dia a dia do restaurante engessa o cardápio!

Mais uma conquista! E Atala costuma ser muito modesto em relação as suas conquistas, mas ser um dos principais nomes da gastronomia mundial e inspirar tanta gente não é para qualquer um!

Conquistas x Orgulho

Com tanta coisa bacana acontecendo, Alex Atala tem orgulho do quê?

Ele diz que ainda quer fazer muita coisa e se orgulhar muito ainda, mas quando parou para pensar, confessou que se orgulha do momento que resolveu investir na culinária brasileira.

“Quando resolvi fazer comida brasileira fui muito criticado, as pessoas achavam que não era bacana. Riam quando eu colocava manga com maracujá na entrada, lá no (extinto restaurante) Filomena, ou riem até hoje quando sirvo formigas” .

Mas aí, ele vê essa mesma coisa acontecendo no mundo. Então, não deve estar indo por um caminho tão errado assim!

“O grande orgulho que tenho é que não sou capaz de dizer qual a melhor cozinha do mundo: francesa, italiana, espanhola, japonesa. Mas eu tenho certeza absoluta e mostrei para o mundo que a cozinha brasileira é um sonho possível”.

E que bom que você não desistiu desse sonho! 🙂

Futuro

Para ele, é muito cedo para sentar e falar que o trabalho está feito. Atala é daqueles que acredita em construções perenes.

Disse que nos próximos anos vamos ver muitos chefs aparecerem e sumirem, mas ele prefere tentar o caminho da consistência.

“Acho que é muito cedo para eu falar assim: olha, já fiz… A vontade é ir longe e fazer muita coisa ainda”.

Há pouco ele esteve diante de uma criançada divertida – quem sabe os futuros chefs do Brasil. Participando do MasterChef Júnior, o renomado chef constatou que surpreendentemente esses pequenos cozinham melhor que os adultos!

“Acho que é incrível essa fascinação que as crianças começam a ter pelo ato de cozinhar, porque elas começam a se aproximar do ingrediente. Ao se aproximar do ingrediente, talvez elas entendam que o enlatado não é tão gostoso, que a caixinha não é tão fascinante e devagar começam a perder o preconceito contra o verdinho”.

Para Atala, a chave dessa mudança, dessa aproximação foi trazer o ingrediente para mais perto, plantar as coisas em casa, entender o tempo do cultivo. Aproximar o homem do alimento no seu primeiro momento.

“Tem uma desconexão grande do homem com a alimento e as crianças podem ser o caminho para essa aproximação. Tem gente que não sabe que um pé de laranja é uma laranjeira se a planta não estiver carregada com os frutos. E estamos falando de uma fruta do nosso dia a dia”!

“O fogo, com arte e ciência, é instrumento de civilização”

Sabemos que o ATÁ tem sido um agente de mudanças. E o mais legal é que está conseguindo atingir a civilização mantendo o seu propósito.

“No ATÁ temos vários projetos onde, através do ingrediente, a gente consegue algum benefício social, econômico, cultural, ambiental para comunidades carentes, para o pequeno produtor”.

E o que seria essa civilização?

“Quando falamos de instrumento de civilização, obviamente nessa cadeia do alimento, a gente vai entender que proteger a natureza não é proteger rio, mar e floresta. É sobretudo proteger o homem que vive do rio, do mar e da floresta. A cadeia do alimento tem uma função potente para isso”.

Ele sabe que projetos como esses talvez tenham milhões no Brasil e afirma que todos sofrem do mesmo mal, que é o escoamento da produção.

Mas para Atala, o projeto do ATÁ que faz com que esta frase faça cada vez mais sentido é a revitalização do Mercado de Pinheiros.

“O próprio fato da gente anunciar que ia começar a trabalhar lá já gerou um movimento. Ou seja, um mercado que estava em desuso, carente, degradado, hoje passa por uma reforma física e também por uma nova oxigenação”.

O chef acredita que até o final do ano, eles vão dar acesso aos ingredientes desses projetos para as pessoas normais, por um preço incrível.

“Eu sempre falo que inovação é criatividade com utilidade. Se não tem utilidade não tem como seguir com os projetos incríveis que nós temos”.

São projetos incríveis com pequenos produtores, com indígenas, com quilombolas, mas Atala sabe que tem que dar uso para eles. E uso é quando não for mais um projeto do ATÁ, é quando for um projeto nosso, da comunidade. E eles estão felizes com os resultados alcançados e com suas conquistas.

“Dos nossos projetos, o Mercado de Pinheiros é talvez um dos mais duros, mais complexos, mais desafiadores, mas sem dúvida o de maior utilidade”. Ele conseguiu aproximar o homem do alimento.

Inspiração

O Disque9 quis saber quais destinos que Atala considera mais inspiradores para criar coisas novas.

“O mundo inteiro influencia. O Japão é uma fonte de inspiração para todo cozinheiro porque a simplicidade é a maior chave da cozinha japonesa. A simplicidade é uma inspiração. Ser simples é difícil”.

Para um chef tão inspirador, a resposta não poderia ter sido diferente.

O Fim

O mundo vai acabar e o Disque9 estava lá para anotar o pedido da última refeição de Alex Atala. Escolha uma entrada, um prato principal e uma sobremesa…

“Arroz, feijão e uma manga! Adoro manga… E a entrada, fico com o que aparecer”.

Simplesmente delicioso! FIM.

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