ACHEI! O Pantanal por trás dos Big Five por Pollianna Thomé
Na série “Achei” convidamos um especialista em algum assunto para contar o que achou mundo afora. A cada mês um post com dicas que só um expert poderia fornecer!
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Quem achou: Pollianna Thomé é formada em Turismo e Mestre em Geografia. Catarinense de nascimento com passagens por várias cidades e países, adotou o Pantanal como casa. Mulher e mãe de pantaneiros é cozinheira, professora e contribui para a gestão do charmoso hotel Barra Mansa.
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Onça, anta, tamanduá bandeira, sucuri e ariranha. Esses são os Big Five, cinco espécies-chave da fauna pantaneira caçadas pelos olhos e câmeras fotográficas de turistas do mundo todo. Ávidos por viver uma experiência de safári na savana brasileira, muitos deixam de aproveitar o ambiente e a cultura do lugar pela ânsia de ver os “cinco grandes” do Pantanal. Mas não é por menos. Todo e qualquer material de divulgação desse destino turístico agrega imagens fantásticas dos animais, passando a impressão de que a todo e qualquer momento serão avistados em seu habitat natural.
Mas não é bem assim. Diferente do que acontece nos parques africanos, os bichos do Pantanal vivem livres, sem cercas e muros para delimitar seu território. E também são de pequeno porte: nenhum tem o tamanho de uma girafa, um elefante ou hipopótamo e por isso são mais difíceis de serem vistos em meio à vegetação nativa. Moro e trabalho no Pantanal há 10 anos e confesso que poucas vezes que saí em busca de um animal específico, ele se deixou ser visto. As imagens mais incríveis que já registrei foram em momentos inesperados: em trabalho de campo cuidando de vacas e bezerros, tomando tereré sob a sombra de uma árvore, brincando com os filhos na beira do rio… Minha sugestão para quem deseja conhecer o Pantanal é se deixar envolver pela simplicidade do ambiente rural e desfrutar dos sons, sabores e aromas, pois aquilo que se deseja ver vai aparecer quando se menos espera.
Banho de Vazante
Entre os meses de Abril e Junho, a água da chuva que encheu o Pantanal começa a “vazar” pelos campos em direção aos rios. Esse é o lugar perfeito para tomar banho e se refrescar nos dias quentes. Como a água está transparente, dá para nadar entre cardumes de peixes e algas coloridas com perfeita visão dos seus pés e tudo mais que possa estar por perto – jacarés, arraias, lontras e ariranhas. Se o silêncio for mantido, e deve ser, poderá ver um dos Big Five se aproximar para beber água ou nadar.
O céu e o infinito
A melhor forma de terminar a garrafa de vinho do jantar é sentado em uma espreguiçadeira na escuridão do Pantanal. Olhar para o alto nos faz lembrar que moramos num infinito e também a refletir sobre as possibilidades de vida fora da Terra. A visão 180°, repleta de pontos luminosos, pode ser mais incrível ainda se tiver em mãos um equipamento de observação de astros, afinal, não é porque estamos no meio do mato que não podemos fazer uso de tecnologias.
Grilos e sapos compõem a trilha sonora da noite enquanto sons de outros bichos nos levam a brincar de adivinhar e quão perto está. Um dia, em uma dessas noitadas, escutamos o esturro da onça e, na manhã seguinte, vimos a batida, a não menos que 20 metros de onde estávamos!
Sashimi de Piranha
Toda pousada no Pantanal oferece a pesca recreativa de piranha como recreação. Jogar a isca no rio e fisgar aquele ‘ser’ cheio de dentes pontiagudos é divertido para alguns, um pouco nojento para outros. O que não pode deixar passar é a oportunidade de degustar esse peixinho fresco na beira do rio. Quem não gosta de comer cru, pode pedir para o guia preparar um ceviche com bastante limão e gengibre. Foi durante uma dessas experiências gastronômicas que um grupo de ariranhas se aproximou do barco e ficou interagindo na nossa frente. Me senti o camera-man de um documentário do Discovery Channel!
Os peões e seus cavalos
A pecuária é a principal atividade econômica do Pantanal. Para fazer com que as vacas e touros cumpram com suas obrigações, toda fazenda tem peões e cavalos. A vida selvagem convive harmonicamente com a figura do peão sobre o cavalo, por isso, considero que é durante a cavalgada que surgem as melhores oportunidades de observação da natureza. Eles são silenciosos, caminham em todo tipo de solo e são extremamente obedientes, sendo treinados para o trabalho, além de nos permitir ter uma visão do alto e enxergar melhor o que há entre os arbustos. O tradicional é montar usando arreios ao invés de selas, que mais parecem um sofá quando se senta sobre o cavalo. Conversar com os peões e ouvir suas histórias de vida e sobrevivência no Pantanal é um dos pontos altos dessa experiência. Só tome cuidado para não se empolgar com o bate-papo e perder uma cena de vida selvagem, como um tamanduá carregando o filhote nas costas. Isso já aconteceu comigo. 🙁
A siesta na rede
No Pantanal faz calor de 40°C em boa parte do ano. Para ter maiores chances de ver os animais é aconselhável sair para os passeios ao amanhecer e retornar para a pousada quando o sol esquenta. Assim também fazem os bichos: saem de madrugada para beber e comer e se recolhem no mato durante o sol quente. Para a sobremesa do almoço, acompanhada de uma preguiça, nada melhor que deitar na rede e tirar uma siesta. Aproveite esse momento para ler seu livro de viagem, ouvir o som das aves e mais de que tudo, descansar. É bem provável que um casal de araras tenha a mesma ideia e pouse na árvore que sustenta sua rede para descansar.
Foto de capa: Staffan Widstrand