PONTO DE VISTA – A maldição do jeitinho brasileiro
Sabe o famoso jeitinho brasileiro? Aquela reconhecida característica nacional que nos torna seres flexíveis e adaptáveis? Pois bem! Na verdade, em muitas ocasiões, ele é um eufemismo para a mais pura falta de noção e de educação do nosso povo.
Bem que poderíamos usar e felizmente, em alguns casos até usamos, esta flexibilidade e capacidade de adaptação para o bem geral da nação, como por exemplo: superação de adversidade e crises, capacidade de mudar rapidamente, inovação e criatividade gerando novos produtos, serviços e conhecimento, melhoria da sociedade e da coletividade entre muitas outras coisas. Mas infelizmente este traço nacional virou principalmente uma maldição que está presente em todas as esferas.
Alguns exemplos cotidianos são aquela furada de fila dizendo que só irá pedir uma informação, o pagamento de propina ao fiscal para agilizar o processo junto a qualquer órgão público, a falsificação da carteirinha de estudante para conseguir meia-entrada, o não comentar que esqueceram de lançar alguma despesa na sua conta do hotel, a mala que ultrapassa o peso trazida como bagagem de mão que foi escondida durante o check in, aquele favor especial “só para mim e só esta única vez”. Enfim, a lista pode seguir indefinidamente cheia de exemplos e é verdade que nós nos utilizamos do jeitinho em algumas situações da nossa vida, mesmo sem perceber.
Exemplificando mais a questão, vamos usar como exemplo as companhias aéreas. Se há uma fila dedicada ao embarque preferencial prioridades por lei e para os clientes fidelidade, por que os atendentes não direcionam os espertalhões que entram no lugar errado quando descobrem o suposto “golpe”? Manda voltar, faz entrar na fila de novo. Mas quer ver como os certinhos são punidos? Se o funcionário da companhia aérea, seguindo o procedimento correto manda voltar, o cliente mal educado reclama, pede uma chance, diz que é a última vez. Se o certinho não dá bola e insiste que o cliente vá para a fila correta, é taxado de rígido. Se cede às suplicas, prejudica quem efetivamente tem direito ao serviço e está na fila certa.
O mesmo acontece no portão de embarque. Os passageiros não prestam atenção na mensagem da companhia e não sabem o que são grupos ou filas. É preciso educar o nosso povo que viaja cada vez mais. Se o grupo A foi chamado para embarque, respeite a regra. Funcionários e clientes não devem deixar os perdidos, agoniados ou desaforados embarcarem antes. É falta de respeito e educação com quem cumpre a regra.
Mais um caso da folga é o assento conforto. Você, que pagou para viajar mais confortável, que viaja constantemente e que dificilmente recebe upgrade para este assento, mesmo quando está vazio, é o personagem da nossa história. A companhia aérea, para acomodar passageiros de voos atrasados, reclamões e afins cede este lugar, mesmo tendo cobrado de você. A sensação que fica é que você foi enganado. Pagou e outro não, tolinho! O mesmo é válido para quando alguém, depois da decolagem, senta no fatídico assento e nenhum comissário pede para sair. Regra é regra, poxa! E pior, a cereja do bolo é quando o comissário pede para sair e o folgado sai reclamando, falando alto. Vergonha alheia.
Só que sabe o que isso significa? Que estamos nivelando o país por baixo e principalmente que os corretos, adequados e respeitadores pagam caro pelos demais. Portanto, pessoas seguidoras das regras e dos bons costumes, uni-vos! Vocês estão carregando o piano! Empresas sérias: é também seu papel educar o cidadão, pois nada irá mudar se confiarmos apenas na atitude individual.
O objetivo deste artigo é proporcionar uma reflexão de como podemos melhorar nossas atitudes enquanto cidadãos, fazendo com que o nosso cotidiano fique mais civilizado e organizado para todos. Além disso, o turismo seria muito beneficiado, já que reduziríamos situações corriqueiras estressantes e o choque cultural que causamos em alguns turistas.
Com o cuidado de não cometer injustiças também é importante destacar que muitas empresas têm procedimentos adequados para todas estas situações e que muitos profissionais competentes seguem o que foi estabelecido. Palmas para eles!!! Porém, é importante garantir consistência na entrega e uniformidade. Se vão pesar a sua mala de mão, por que é que o passageiro ao lado entrou com um contêiner que mal cabe no bagageiro? Treinar a equipe constantemente é fundamental. E por último é preciso auditar a rotina para garantir que o que é estabelecido, é cumprido. Sob pena de favorecer o famoso jeitinho e deixar os adequados sentindo-se otários. Fica a dica!