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Entrevista – Daniela Narciso: projetos gastronômicos de sucesso


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A parceria entre uma chef e um produtor cultural só poderia dar coisa boa! Daniela Narciso e o sócio Maurício Schuartz uniram seus superpoderes e são os responsáveis por iniciativas como o Butantan Food Park, a Feirinha Gastronômica de São Paulo e o Chefs na Rua.

Numa noite de quarta-feira, tivemos o prazer de bater um papo com Daniela – falar de comida nos fez acabar a entrevista e ir correndo procurar alguma coisa boa para comer, rs 😛

O poder transformador da gastronomia, a comida como cultura e a gourmetização são alguns dos assuntos que conversamos com a chef.

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Sobre quando food trucks eram apenas trailers

Formada em hotelaria e gastronomia, a chef sempre atuou na área de eventos. Em 1996 viveu nos Estados Unidos para trabalhar e estudar e muito antes de “food truck” estar na boca do povo, Daniela vendia sanduíches em um trailer em San Francisco na Califórnia.

Em 2010, quando completou 6 anos em São Paulo atuando como professora e consultora em A&B, surgiu o primeiro projeto junto ao sócio Mauricio: “Cozinhando com Palavras” na Bienal do Livro. A bandeira “gastronomia também é cultura” foi levantada pela primeira vez e a repercussão foi excelente – a energia que eles precisavam para seguir em frente e lançar novos projetos!

Além do que já citamos, no portfólio também está a organização do livro “Pois sou um bom cozinheiro”, que traz receitas da vida e obra de Vinicius de Moraes.

Com as coisas dando certo, em 2011 o sócio Mauricio foi para os Estados Unidos pesquisar o cenário gastronômico do país e caçar tendências. O foco estava nos food trucks e na comida de rua.

Democratizando a comida: Chefs na Rua

O primeiro fruto da pesquisa foi o “Chefs na Rua”, uma grande praça de alimentação durante a Virada Cultural de 2012 em São Paulo. Daniela comentou que até então não existia uma forma de alimentação no evento e então o projeto foi sugerido.

A ideia era democratizar a gastronomia: permitir que o público tivesse acesso aos chefs que costumavam viver dentro das 4 paredes de seus restaurantes. Levar a comida deles para a rua a um preço popular. O resultado? 60 mil refeições servidas em 12 horas!

Ela gosta de reforçar: “É comida na rua e não comida de rua. A comida de rua é o hot dog, o milho cozido, a pipoca. Em algum momento vão se juntar, mas por enquanto é bastante diferente”. Bacalhau, ceviche, hambúrguer de pato e outros – por menos de 15 reais.

Daniela constatou que a população estava sedenta por isso e uma certeza ficou “o movimento não pode parar!”.

O poder transformador da gastronomia: Feirinha Gastronômicaentrevista-daniela-narciso-projetos-gastronomicos-de-sucesso

Como consultora e professora, Daniela conhece os tristes dados a respeito dos restaurantes: apenas 2% deles sobrevivem ao 2º ano de operação. Ela comenta que começou a debater sobre encontrar uma forma de começar que fosse mais barata – já que os food trucks ainda não eram permitidos por aqui.

Daniela explica: “então veio a ideia de criar um evento mais frequente para dar espaço para pessoas que têm um dom culinário. Que poderiam se tornar uma empresa se tivessem um lugar e uma oportunidade para começar”.

Junto às experiências de Mauricio, foi criado o projeto da Feirinha Gastronômica: um espaço democrático em que estão os chefs, os estudantes e as donas de casa, “gente com história diferente e um bom produto em comum”.

E é claro que já deu certo, logo no primeiro fim de semana de execução.

A gastronomia aparece aqui com seu grande poder transformador, mudando vidas. Daniela diz que hoje muitas pessoas tiram do evento o seu sustento e define bem: “a Feirinha virou uma incubadora de projetos gastronômicos. É uma missão que está cada vez mais forte. Isso é muito gratificante para nós”.

Ela nos contou a história da Dona Vera Lucia, a responsável por uma deliciosa (e famosa) macaxeira rosti. Ela foi apadrinhada pela equipe, que a ajudou a construir fichas técnicas e também a orientou no crescimento do negócio. Só sucesso!

Há também a D’Macarons, que começou vendendo 50 unidades por domingo. Hoje em dia? 1200 a 1500 por dia! Isso, sem contar os mais de 8 mil feitos durante a semana para atender diversas encomendas.

E que tal os Churros Tentação que já podem ser encontrados em 10 pontos da cidade?

Gourmetização

Daniela acha que tem culpa nessa onda da gourmetização. A chef diz que sempre incentivou que as pessoas criassem e buscassem coisas diferentes na gastronomia.

Ela diz que tem um lado legal, por tornar a comida um luxo acessível. É possível ter um sonho realizado e viver uma nova experiência, como provar pela primeira vez na vida a carne de pato em uma coxinha que custa apenas 8 reais.

O lado chato para ela é quando isso acontece em excesso e qualquer exemplar se torna “gourmet”. Ela exemplifica falando sobre os brigadeiros, “muita gente fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo fica com aquele chato raio gourmetizador!”

Outro comentário interessante feito pela chef foi uma comparação com a moda: “você tem a alta costura, com cortes diferentes e modelos que ninguém vai usar na rua. Aqueles chamados de ‘alta gastronomia’ não fazem a comida do dia a dia, que não deixa de ser arte mas servem como inspiração.”

ramenburgerVai bombar em 2015

Ainda sobre o excesso de oferta, Daniela comenta que este será o último ano do hambúrguer: “todo mundo está fazendo, até restaurante de peixe tem hambúrguer!”. Fica a dica gente, vamos buscar originalidade!

Que tal um novo tipo? Ela fala sobre o ramen burger, um hit em NY, que deve bombar neste ano no Brasil.

“Os sucos prensados a frio já estão aparecendo por aqui e com certeza serão uma febre”, apontou Daniela. Ela completa: “tudo precisa ter uma história, mais que vender deve existir uma filosofia por trás. Estão em alta os pequenos produtores, os orgânicos e a origem dos ingredientes.”

Sem esquecer dos food trucks! O Butantan Food Park é um sucesso em São Paulo e Daniela teve forte participação na lei que liberou os caminhões nas ruas. E adiciona: “alimentação é entretenimento, a praia de paulistano é restaurante” e agora, food truck também 😉

Os preferidos em São Paulo

Perguntamos para Daniela quais são seus points gastronômicos favoritos em São Paulo, e claro que a Feirinha está em primeiro lugar: “Digo que não vou comer, mas acabo não resistindo”.

Ela cita o Izakaya Issa da Dona Margarida, “um boteco japonês com coisas incríveis! Ela planta algumas coisas como raiz de lótus, bardana e tem um nabo em conserva que hummm”.

Daniela também coloca como um de seus favoritos o Bar da Dona Onça no Copan.

Não dá para morrer sem antes provar …         

Aqui Daniela judiou da entrevistadora ao falar sobre o Okonomiyaki, um prato do Izakaya Issa que ela descreve: “é parecido com uma tortilla, tem legumes e um peixe defumado em lascas tão finas que com o vapor elas balançam. Vem para a mesa mexendo, mas não tem vida!”.

E ainda completa: “Quando comi a primeira vez minha reação foi ‘Como fiquei a vida sem provar isso?”.

Ah, essas coisas que só a comida faz pela gente 😉

Veja o vídeo que ela nos enviou:

Daniela Narciso no Instagram.

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Agradecemos à Daniela pelo tempo e atenção dados ao Disque9 para esta entrevista 🙂